quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Dizem que eu sonho acordada, mas na verdade eu acordo sonhando.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Um dia um jovem sábio me disse "Um ano comparado a uma vida é pouco, mas uma vida sem esse ano é nada." e então eu nunca mais esqueci esse dia, tampouco esse ano.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

E naquele último dia... Eles sequer mencionaram o de amanhã. Naquele dia eles apenas viveram, sentaram no balanço e sentiram o vento tocar seus rostos risonhos. O som de suas risadas se misturaram e formaram uma só música. Aqueles risos. Tentando esquecer a tempestade de ansiedade que flutuava ao redor deles. Mas nenhuma ansiedade o corriam. Não ali, naquele momento. Não era hora. Aquele era o dia de viver. Aquele era o dia de sorrir, ainda que por uma ultima vez. Não, não era a última vez. Sorriam. Quando o olhar dele tornou a olhá-la, ela desejou ser apenas o fim de um Domingo. Mas ela não era boba. Sabia que aqueles cinco dias demorariam muito mais a passar. E quando finalmente ele virou e ela o perdeu de vista, ela prometeu para si não deixar aquelas coisas que flutuavam afogá-la.

sábado, 9 de outubro de 2010

Eis que sonhei que assim vivia. Vivi num sonho. Sonhei com a vida. Eis que hoje acordei no meu sonho, mais um dia. Acordei mas dormia. Num só sonho. Uma só vida.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Era um rapaz de rosto rígido e expressões frias, não tinha compaixão muito menos amor por alguma coisa ou ser. Falava apenas palavras duras, que deixavam as pessoas atingidas raladas ao chão. Nada além da verdade, aquela que ninguém teve a coragem de falar, aquela que ninguém tem a coragem de dizer, dizer para si, sequer assumir para si, mas tudo o que ele fazia era o que eles faziam todos os dias, mas fingiam uns aos outros que a situação era revertida. A mentira se tornara a verdade deles. Quando ele se aproximava todos temiam. Era coragem e medo. O "sem coração", só que nenhum deles ali sabiam o que era um coração, apenas fingiam que sabiam. Ele falava mentiras, calúnias. Ele falava apenas a verdade. E aquilo doía em quem fosse a "vítima". Eles estremeciam quando aquele rapaz se aproximava, quando levantava voz, quando olhava na direção deles ou quando simplesmente ficava indiferente a qualquer coisa adiante. Ele era aquilo que eles não queriam ser. Ele era eles mesmos. Era o que eles sabiam dos mesmos que os deixavam com medo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Fechei os olhos. Tornei a abri-los, não fez diferença. A escuridão se propagava extensa, em sua infinitude do nada. Não havia nada além do escuro. Não havia nada além. Um som agonizante cada vez mais alto no meio de todo aquele silêncio. Só havia o medo, que se espalhava por aquele quarto, se arrastava pelo chão, atingia as paredes, atingia os móveis, atingia, sobretudo, a mim em milésimos de segundo. As janelas permaneciam fechadas, mas o vento frio era atormentante. Fechei os olhos. Senti algo aproximar-se de mim, passar as mãos serenas sobre minha cabeça, colocar as meias em meus pés, cobrir-me com o cobertor e permanecer ao meu lado, silencioso. Senti uma segurança ressurgir, uma que eu pensei não existir. Voltei a abri-los, entretanto agora havia algo diferente, a luz atingira meus olhos, as cores se propagavam em degradê, o frio já não me atormentava. E lá estava, diante de mim, a me acariciar com suas mãos confortantes que me encorajavam. O medo já não me atingira com tamanha intensidade enquanto, deitada num abraço de paz, me entregava em seus braços de harmonia.
Agora uma pequena parte de mim é medo, e outra, muito maior, é amor.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ando distraída. Sou distraída. Ando olhando pro lado. Ando olhando as cores. Ando olhando os sorrisos, as emoções. Não. Não preciso andar. Estava sentada. Não é sempre que ele faz isso. Na verdade ele não faz isso. Sentou-se à mesa para o jantar. Ele adora a hora do jantar. Descansar. Ou tentar. Sentou e ligou a TV para ver o jornal, de praxe. Tinha seus olhos fixos nela, mas não prestava atenção no que passava. Estava em outro lugar. Tinha seus olhos cansados e sua cabeça parecia ter o dobro do peso de seu corpo. Ele sempre procura não demonstrar para nós os problemas que se passam, achando que nos engana. A mim não. Nunca vira aqueles olhos tão cansados. Não havia só cansaço. Havia decepção. Atingira seu clímax. Imaginava o que ele precisava. Abri a boca pra tentar falar alguma coisa. O clima era um tanto tenso. Só ouvia o som da televisão. Mas dentro de nós muitas vozes falavam. Gritavam. Algo quebrou o gelo. Ele falou. Falou da decepção, do que acontecera naquela tarde. Falou. Falou. Sua respiração era forte, profunda. Cada palavra que soltava, o peso de sua cabeça ia diminuindo. Logo o sentíamos leve. Ele precisava daquilo, mesmo que achasse que não. Falei algo. Dei-lhe um abraço, um abraço carregado de amor. Nunca mais havia visto aquele riso, além daquele sorriso amarelo que ele dava tentando nos tapear. Levantou-se e saiu da mesa com um sorriso, um sorriso carregado de prazer. Como uma pena. Sei que seu problema não tinha sumido, mas ele é forte, sempre foi, bastava-lhe uma forcinha para sentir-se melhor, ao menos um pouco melhor. E eu, eu sai com minhas luzes acesas. Radiava. Nunca o senti tão próximo de mim antes, até mesmo quando ele me enchia de cócegas e abraços, quando agüentava o meu peso na sua corcunda, ou quando sua corcunda podia aguentar algum peso. Não é sempre que ele faz isso, falar do que esta acontecendo. Não, ele não faz isso. Sinto-o muito próximo de mim agora. Espero todos os dias a hora do jantar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Nunca haviam o visto tão agitado, mas aqueles ventos daquele tempo eram ventos pesados, carregados ainda com os rastros da chuva que se passara e não haviam se afastados por completo. Agora repete-se, nunca vi aquele catavento tão agitado, girando debaixo daquele sol, ventos quentes e leves, anuciando o bom tempo. Não pare de girar catavento. Não para de girar o catavento, cada vez mais veloz.

Eu sei do vento. Eu sei da cor do céu, das flores, das nuvens. Eu sei do tempo. Sempre catavento.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ele olharia pra mim e me acharia doida. Não. Ele me acha doida, repete isso inúmeras vezes ao dia, fala com os olhos piscando e deixa a sinceridade escrita naquele olhar doce e sonhador, me fala que é bom ser doido, gosta disso. Seja verdade ou não, o fato é que é bobagem carregar esse medo de felicidade. Minha vó sempre diz que a gente vive a vida procurando-a, mas na verdade ela fica depositada em varias coisas enquanto a vive e esquecemos-nos de abrir os olhos e nos dar conta que estamos diante da felicidade. Meus olhos estão abertos, bem abertos, quase sem querer piscar pra não deixar de enxergar por qualquer segundo. Tenho completa noção e certeza do que sinto e agora. Duas estão predominantes. Medo. Felicidade. Separados, juntos. Medo da felicidade. Talvez. Mas eu tenho certeza, que completa contradição, não, não me direi por contraditória. Ele diria "Não se deve ter medo da felicidade!" com aquele lindo olharzinho. Chamaria-me de doida. E iria me sorrir, e brilhar. Gosto daquele olhar, gosto daquele sorriso, me faz feliz. Gosto de roubar aqueles sorrisos posso estar sendo modesta ao assumir que estou ficando craque em roubá-los. Como é bom tê-los para mim. Guardo meu egoísmo dentro da gaveta e digo é muito bom ver aquele sorriso se mostrar sincero a todos, talvez ninguém ainda o tenha descoberto e concorde, mas hei que descobrirão. Sim, é isso. Sou a colecionadora de sorrisos mais feliz que existe. Fecharei os olhos e lembrarei-me de todos esses sorrisos que ficam dentro de uma caixa num armariozinho meio escondido. Talvez quando os abra ele estará ali, na minha frente pronto para ser roubado. Eu como sempre farei o que faço melhor. Roubarei. Mais de vinte e sete, dos melhores. Ou talvez abra e olhe em volta e uma realidade bem diferente estará diante dos meus olhos, dessas que não posso prever agora. Só que em mim vai ficar guardado cada um deles, ainda que não possa mais roubá-los. Incerteza. É disso que temos certeza. Lá venho eu e minha mania de contradição. Mas certamente temos incerteza do que me restará ao abrir os olhos e abandonar as lembranças desse tempo. Do tempo em que eu era a colecionadora de sorriso mais feliz. Tenho dito. Não sei quanto à felicidade. Eu sei dos sorrisos, esses estarão sempre aqui ainda que não mais possa mais roubá-los, guardados em um lugar onde apenas eu poderei apreciar. E não me olhem como egoísta, apenas consegui colecioná-los. E assim andarei, roubando esses tais sorrisos enquanto eu posso, ainda que não para sempre.