quarta-feira, 24 de março de 2010

Ando distraída. Sou distraída. Ando olhando pro lado. Ando olhando as cores. Ando olhando os sorrisos, as emoções. Não. Não preciso andar. Estava sentada. Não é sempre que ele faz isso. Na verdade ele não faz isso. Sentou-se à mesa para o jantar. Ele adora a hora do jantar. Descansar. Ou tentar. Sentou e ligou a TV para ver o jornal, de praxe. Tinha seus olhos fixos nela, mas não prestava atenção no que passava. Estava em outro lugar. Tinha seus olhos cansados e sua cabeça parecia ter o dobro do peso de seu corpo. Ele sempre procura não demonstrar para nós os problemas que se passam, achando que nos engana. A mim não. Nunca vira aqueles olhos tão cansados. Não havia só cansaço. Havia decepção. Atingira seu clímax. Imaginava o que ele precisava. Abri a boca pra tentar falar alguma coisa. O clima era um tanto tenso. Só ouvia o som da televisão. Mas dentro de nós muitas vozes falavam. Gritavam. Algo quebrou o gelo. Ele falou. Falou da decepção, do que acontecera naquela tarde. Falou. Falou. Sua respiração era forte, profunda. Cada palavra que soltava, o peso de sua cabeça ia diminuindo. Logo o sentíamos leve. Ele precisava daquilo, mesmo que achasse que não. Falei algo. Dei-lhe um abraço, um abraço carregado de amor. Nunca mais havia visto aquele riso, além daquele sorriso amarelo que ele dava tentando nos tapear. Levantou-se e saiu da mesa com um sorriso, um sorriso carregado de prazer. Como uma pena. Sei que seu problema não tinha sumido, mas ele é forte, sempre foi, bastava-lhe uma forcinha para sentir-se melhor, ao menos um pouco melhor. E eu, eu sai com minhas luzes acesas. Radiava. Nunca o senti tão próximo de mim antes, até mesmo quando ele me enchia de cócegas e abraços, quando agüentava o meu peso na sua corcunda, ou quando sua corcunda podia aguentar algum peso. Não é sempre que ele faz isso, falar do que esta acontecendo. Não, ele não faz isso. Sinto-o muito próximo de mim agora. Espero todos os dias a hora do jantar.

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